Teremos Mike Tomlin por mais 4 anos como head coach dos Steelers. Gritos de alegria e lamentação ecoam na torcida dos Steelers. Claro que é impossível ter unanimidade, mas por que a renovação por mais 3 anos, para os torcedores dos Steelers, obviamente, é tão polêmica?
Mike Tomlin assumiu os Steelers como HC em 2007 e, logo no ano seguinte, se tornou o técnico mais jovem da NFL a ganhar um Super Bowl, quando tinha apenas 36 anos – feito superado em 2022 por Sean McVay com os Rams. Até então, são 17 temporadas liderando o time, nunca tendo uma temporada negativa – mais derrotas que vitórias, feito superado apenas por Tom Landry (Dallas 65-85) e Bill Belichick (Patriots 01-19), com 21 e 19 temporadas positivas, respectivamente. Além disso, Mike Tomlin tem um recorde de 173-100-2 em temporada regular; um aproveitamento de 63,3%, superior aos seus antecessores Bill Cowher (62,3%) e Chuck Noll (56,6%). Ele ainda ganhou a Divisão em 7 ocasiões e foi aos playoffs em 11 temporadas.
Certamente, o aproveitamento de Tomlin na temporada regular é quase excelente. O problema? Os playoffs. Mike Tomlin tem um aproveitamento de 8-10 (44% de aproveitamento) nos playoffs. Apesar de um Super Bowl no currículo – que muitos creditam mais ao seu antecessor Bill Cowher, que teria “montado” o time para o Tomlin, Tomlin perdeu outro – SB XLV, contra os Packers.
O torcedor dos Steelers tem lembranças dolorosas de algumas derrotas em playoffs. Particularmente, 2017 e 2020, onde éramos claros favoritos contra nossos adversários, Jaguars e Browns, respectivamente. Em 2011, a derrota para o Broncos do Tim Tebow ainda deixa um gosto amargo. Mas nas demais derrotas, estivemos no máximo em pé de igualdade com os adversários. Porém, QB faz a diferença e as derrotas para os Chiefs do Mahomes e Bills do Josh Allen eram esperadas.
Porém, as derrotas nos playoffs são majoritariamente culpa do Tomlin? Vamos rever aqui alguns números e dados de alguns desses jogos.
Em 2011, e o trauma deixado por Tim Tebow: os Steelers vinham de uma boa temporada regular, com um recorde de 12-4 contra o 8-8 dos Broncos. Mesmo assim, jogamos fora de casa no Wildcard por sermos 2º da divisão. Os Steelers foram para a partida sem 13 jogadores lesionados, além dos principais nomes que foram pro jogo lidando com lesões, como Big Ben, Pouncey, Polamalu, Woodley, James Harrison e outros.
Em 2017, viemos de uma temporada regular com um recorde de 13-3, em que deveríamos ter sido seed 1, se não tivessem nos tirado essa posição com o famoso Jesse James catch no jogo contra os Patriots. Mesmo assim, na temporada tivemos a infeliz lesão do Ryan Shazier, que quase ficou paraplégico. Lesões em geral não foram um fator predominante, mas uma defesa horrível contra corrida (concedemos quase 1700 jardas na temporada), um gameplan ótimo dos Jaguars focado no RB Leonard Fournette com 109 jardas e 3 TDs no jogo, além de serem a 2ª melhor defesa na temporada, somados a um péssimo início de jogo, saindo atrás 21-0, sacramentaram a derrota por 45-42.
Em 2020, tivemos talvez a mais dolorosa derrota do Big Ben em playoffs, em casa contra o Browns. Os Steelers terminaram o 1º quarto perdendo por 28-0, resultado de um snap mal dado pelo Pouncey com 6 segundos de jogo, 2 corridas do Hunt e uma interceptação do Big Ben. Montanha alta demais para subir com 4 posses de desvantagem e resultado final de 48-37 para os Browns. Nas demais derrotas, éramos times piores que nossos adversários e simplesmente a “carruagem da Cinderela” voltou a ser abóbora nos playoffs, até porque é difícil esperar Big Ben rumo à aposentadoria ganhar dos Chiefs de Mahomes em Kansas City ou Rudolph ganhar dos Bills de Josh Allen em Buffalo e sem TJ Watt.
Certamente há um gosto amargo dessas derrotas nos playoffs. Há quem diga que é papel do head coach montar um elenco completo para lidar com o calendário bruto da NFL. Porém, como se diz: disponibilidade é uma qualidade. Talvez não só por lesões, mas os times de Tomlin perderam gradualmente peças cruciais por razões diversas: Shazier (lesão que acabou com a carreira precocemente), Le’Veon Bell (se recusou a renovar contrato e praticamente não jogou mais na liga), Antonio Brown (Antonio “Brownzou”), Stephon Tuitt (se aposentou com 29 anos, vindo de uma temporada com 12 sacks, devido à morte de seu irmão), Pouncey (se aposentou com 31 anos de contrato recém-renovado), David DeCastro (se aposentou repentinamente após lesão no tornozelo), Ben Roethlisberger (sim, a aposentadoria era esperada, mas não a lesão no cotovelo e o declínio abrupto)… Poucos técnicos seriam capazes de superar tais perdas e manter um time competitivo. Ainda assim, Tomlin levou os Steelers aos playoffs em 11 de 17 temporadas e nem com a dupla Duck Hodges e Rudolph teve uma temporada negativa.
O único treinador da NFL atualmente com mais títulos que Tomlin é Andy Reid, tendo Mahomes como QB ou, recentemente, Bill Belichick com Tom Brady, dois dos maiores QBs que a liga já teve. Mike Tomlin certamente estará no Hall da Fama da NFL, não somente por ter vencido um Super Bowl, mas principalmente pela qualidade de sempre manter times competitivos quando qualquer treinador implodiria. Mike Tomlin tem seus (muitos) defeitos, mas merece a chance de provar que consegue sim liderar o time a vitórias nos playoffs. E certamente esse time atual tem tudo para ser aquele que, no papel e sem lesões, tem mais chances de fazê-lo.
Autor: Thiago Fernandes / @thigfernandes